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As limitações de espaço, fizeram com que não tivesse escrito tudo o que pretendia no artigo anterior. Daí voltar ao tema. Desta guerra sobressaem alguns factos vergonhosos que gostava de expor.
O primeiro é que não percebo o papel das organizações internacionais que abandonaram a Ucrânia à sua sorte. A primeira questão que me ocorre é a seguinte: onde anda a ONU? O que tem feito, para além de discursos de circunstância? Já deveria ter, pelo menos, expulsado a Rússia do Conselho de Segurança, tal como foi solicitado pela Ucrânia.
É que para além de não ser expulsa, ainda se dá ao luxo de gozar com isto tudo ao vetar as resoluções do Conselho de Segurança que condenam a invasão Russa da Ucrânia.
Já deveria, por outro lado, ter dito que uma intervenção militar pode ser levada a cabo em defesa da Ucrânia, caso a ONU respeite o artigo 51 da Carta das Nações Unidas “que defende o direito de legítima defesa individual ou colectiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e da segurança internacionais”. Para quem possa andar mais distraído refira-se que a Ucrânia é membro fundador da ONU, da qual faz parte desde 1945.
A NATO é outra organização internacional desaparecida. Como disse no artigo anterior, há por aí intelectualidade que defende que a NATO não pode intervir, porque a Ucrânia não faz parte da NATO. Intelectualidade não rima com coerência, porque se assim fosse não diziam tal coisa.
Se a memória não me atraiçoa quando, no final dos anos 90 do século passado, a NATO decidiu intervir no Conflito do Kosovo, este também não fazia, nem faz, parte da NATO. Este caso foi o primeiro conflito internacional em que a comunidade internacional abandonou o Direito Internacional, abrindo-se, assim, o precedente da razoabilidade contra o Direito nas intervenções militares que se seguiram ao Kosovo: Afeganistão e Iraque, ambos casos “resolvidos” sem o consentimento das Nações Unidas. A questão é: que negociatas obscuras impedem a NATO de, ao abrigo do precedente da razoabilidade, ir em defesa da Ucrânia?
Quanto à Europa, como disse, há muito que perdeu a sua essência, a sua razão de ser. Para além de não ser auto-suficiente em áreas onde deveria ser, não soube igualmente diversificar o risco, no que aos fornecedores diz respeito. Dois erros estratégicos de uma organização.
Mas, para além disso, nunca quis olhar com olhos de ver para a questão da segurança europeia, daí nunca ter avançado para a criação de um exército europeu. Ouve-se muito, por aí, que não é possível, porque os Estados-Membros não estão dispostos a dar mais dinheiro.
Lamento informar, mas a segurança, tal como a democracia, tal como a liberdade, tem custos. E ao não ter um exército próprio, passa pela humilhação de a Rússia ameaçar países da União Europeia, e a Europa ficar calada. Infelizmente, a Europa é hoje um anão com pés de barro. Por exemplo, poderia já ter admitido a Ucrânia como país candidato à adesão da União Europeia. Mas nem inteligência para isso tem.
Fica na memória um patriotismo extremo do povo Ucraniano e um Presidente da Ucrânia - Volodymyr Zelensky - perdoem-me a expressão, mas com eles bem no sítio. Ao contrário de outros, não se esconde nem foge. Fica, de pedra e cal, ao lado do seu povo e é ele que dá a cara pelo seu país. O Povo Ucraniano e o seu Presidente mereciam muito mais da Comunidade Internacional.