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Foi informado do falecimento do Senhor Tomé, pessoa que eu conhecia praticamente desde que cheguei a Bélgica.
Apesar do convívio, sempre o tratei por Senhor Tomé. Não por ser ligeiramente mais velho do que eu, mas por ser um senhor que merecia respeito. Na Bélgica, todos conhecem as suas actividades como empresário, líder associativo, dirigente político, mas acho que hoje é o momento de revelar certas coisas que se calhar nem todos conhecem.
A primeira vez que eu contactei o Senhor Tomé, foi na sua qualidade de representante de uma conhecida marcas de café com sede no Alentejo.
Eu esteva envolvido na preparação de um torneio de futebol das instituições europeias e todos os anos tínhamos o mesmo problema; o café que ser servia-mos era de fraca qualidade.
Quando o contactei, ele que não me conhecia de lado nenhum; disse-me para passar na empresa que me entregaria duas máquinas com o respetivo apetrecho tudo a custo zero, só tinha que passar no escritório para levantar as máquinas. Ano sim, ano sim; a organização vende 4.000 euros de café que reverte para instituições humanitárias. Sempre que falei com ele para ter o justo reconhecimento pelo seu trabalho, dizia-me que não estava interessado; que se falasse na marca que ele já era conhecido que chegasse.
Veio só uma vez a gala da entrega dos prémios no Berlaymont. Descobri nessa altura que ele conhecia o edifico da Comissão Europeia melhor do que eu, tinha sido um dos muitos portugueses que trabalharam na sua reconstrução.
Posteriormente cruzamo-nos varias vezes como Sportinguistas e membros da Academia do Bacalhau. Foi sempre uma pessoa com um comportamento exemplar. Deixa saudades por todo o sítio onde passou.
Embora sendo do mesmo clube, por acaso até não temos as mesmas ideias politicas. Confesso que sou "reacionário" desde pequenino. Mas não me posso esquecer que durante a campanha para as eleições europeias; não é que eu vejo na sala as máquinas do Senhor Tomé. Perguntei ao candidato de onde tinham vindo as maquinas? Ele respondeu que as maquinas e o apetrecho tinham sido fornecidas de graça pelo Senhor Tomé.
Muito humildemente presto uma derradeira homenagem ao Senhor Tomé; porque eu se tivesse uma empresa não tenho a certeza se forneceria fosse o que fosse a campanha da CDU de graça; se calhar nem a pagar.
Como grande Sportinguista e dirigente associativo fica a memória de uma pessoa calma, mesmo nos momentos difíceis. Pena que o meu Presidente não seja mais parecido com o Senhor Tomé.
Para além das nossas diferenças nunca me esquecerei da sua narrativa do que foi ter que emigrar como criança, do seu Alentejo natal para um destino desconhecido; algures no norte da Europa. Não é fácil para um adulto quanto mais uma criança sair da sua terra; tal como para mim não era fácil ver os meus Pais partirem para a França no fim do querido mês de Setembro.
Ficam as memórias; fica aqui uma singela homenagem a uma boa pessoa, fica a imensa tristeza de ver mais um emigrante que parte sem "profitar" de uma merecida reforma; que Deus lhe de o eterno descanso.