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Trazida nas asas do tempo, a Comunidade Portuguesa de Emaús em Bruxelas, exalta a sua bonita idade, nos Cinquenta Anos de vida e de actividade contínua; de serviço e de compromisso, de partilha e de entrega, de incentivo e de formação. De muitas atenções, de promoção humana e cristã... Com profícuo trabalho realizado em prol da Comunidade Portuguesa na Bélgica; meio século (1969-2019), anunciando a esperança, lutando pela justiça.
Nascida de uma vontade compartilhada, na Páscoa de 1969, final da década de sessenta. Foi na igreja de Sainte-Croix que tudo começou. As pessoas, em número crescente, começaram a encontrar-se, a conhecer-se melhor e a manifestar uma eficaz entreajuda, que depressa ganhou forma e sentido. Eram os primeiros passos para a criação de uma estrutura mais consistente e com os meios adequados para se poder afirmar, também junto das instâncias oficiais e de reconhecimento. A evolução foi célere e contou com a preciosa ajuda da Igreja local.
O seu nome inspira-se no próprio Evangelho de S. Lucas, que nos fala daquela admirável experiência de dois homens, a caminho de Emaús, cidade próxima de Jerusalém. Caminhantes, peregrinos, derrotados e abatidos, pela notícia do desastre humano na morte do Redentor, Aquele que havia de libertar o seu povo! Acabrunhados – o que acontecia e ainda acontece com quem emigra, no caminho duro da desilusão – eis que lhes aparece um terceiro personagem, interessado pela sua dor e preocupação, que os escuta e os compreende; que se faz amigo e que aceita o convite para uma refeição.
De tão especial encontro, advém uma enorme transformação: o desânimo toma a forma de coragem, a tristeza transforma-se em aceitação e alegria, a solidão torna-se num fraterno convívio, a vida ganha novo alento, outro sentido! Foi este o ideal que norteou, com altos e baixos, todos estes anos da Comunidade Portuguesa de Emaús, que mais tarde se veio a constituir “Associação Sem Fins Lucrativos – ASBL”, um regulamento que lhe permite usufruir dos diversos subsídios e outros direitos destinados a suportar as suas actividades socioculturais.
Há cerca de 28 anos adquiriu a sua própria infra-estrutura; a casa que lhe serve de Sede, o número 26 da Rue du Belvédère é propriedade da Obra Católica Portuguesa de Migrações, entidade portuguesa que gere e organiza a pastoral portuguesa no estrangeiro. Este património português em Bruxelas, destina-se às actividades pastorais e outras componentes de organização educativa. Para melhor servir, “na formação humana e cristã, segundo o espírito do Evangelho”, tal como consta do artigo 4 dos estatutos.
A compra deste imóvel tem a marca do trabalho abnegado dos seus dirigentes, dos associados e de tantos amigos, que durante muitos anos amealharam, com erudição e benevolência, os meios para concretizar esse sonho! Abraçando a ideia de proporcionar às gerações vindouras, outra sorte, com melhores condições para desenvolver as actividades próprias e adequadas para cada época. Neste momento de celebração, importa continuar a enobrecer tão expressivo legado, fruto de uma grande solidariedade, de muito empenho e fraternidade; que na sequência e na acção esteja sempre, o nobre sentimento da gratidão!
UMA COMUNIDADE MISSIONÁRIA
Primeiro as pessoas e a sua formação
A principal vocação da Comunidade foi e será sempre a da formação humana e cristã, da promoção e da valorização das pessoas, na peculiar defesa dos seus direitos, num tempo de agravantes injustiças sociais, com incidência numa pervertida exploração laboral. E foram tantos os casos de asseverada intervenção, com o apoio das autoridades competentes. Os primeiros anos, já depois de fechadas as fronteiras à imigração, a Comunidade prosseguiu um intenso trabalho de assistência e de protecção, aos que continuavam a chegar, desprovidos de tudo.
Na rota da sua existência que conta agora 50 anos, a Comunidade destacou-se também na vertente de serviço e de missão; de apoio e de celebração, de assistência e administração. De inspiração cristã, realizou um trabalho pastoral digno do reconhecimento e da estima de todos: na formação e na administração dos Sacramentos; nas celebrações festivas e de catequese; na pastoral das famílias, dos doentes e dos presos; no apoio monetário a tanta gente, necessário e discreto; na colaboração com outras comunidades estrangeiras; na organização de reuniões e conferências… Em Maio de 1977 organizou a primeira peregrinação a Banneux, em comunhão com os peregrinos de Fátima; a deslocação a esse santuário Mariano repetiu-se ao longo dos anos. E é já no dia 5 de Maio que a comunidade organiza, novamente, essa viagem, até aos pés da Senhora dos pobres, em Banneux. Sempre com uma ligação institucional e comunhão, à Igreja Mãe, junto da OCPM (Obra Católica Portuguesa de Migrações).
Nestas Bodas de Ouro, que a atual Direcção irá certamente agendar, importa continuar a trilhar um caminho digno e dignificante, naquele espírito que sempre pauteou a Comunidade; de exigência e de permanente acção. De reconhecimento e de gratidão, para com os obreiros do passado, tão bem representado nos sacerdotes que serviram e animaram, que desenvolveram e mobilizaram! E nos ajudaram a crescer na fé e no amor ao próximo. Que não se pouparam aos grandes esforços, para conseguir significativos objectivos, que honraram e continuam a enaltecer a nossa caminhada comum pela estrada de Emaús, em Bruxelas, onde o mundo nos olha com redobrada atenção! Um enorme legado que devemos continuar a exaltar, na acção e no compromisso. De tudo, o mais importante é prosseguir nesse bom exemplo e no testemunho que congrega e enobrece a nossa origem e a nossa identidade comum. Tendo sempre em linha de conta que as grandes obras e feitos consequentes, nunca acabam! Enquanto houver portugueses na Bélgica, a Comunidade será sempre um farol de esperança e de vivência da cultura e da fé, com as características que nos identificam como povo e Nação; somos Portugal no mundo e com orgulho!
UMA COMUNIDADE COM HISTÓRIA
Mobilizar e formar, promover e dinamizar
A Igreja belga foi o primeiro grande suporte para a criação da Comunidade, (Comum Unidade); na forma como acolheu o projeto e se interessou por ele, acompanhando espontaneamente, com eficácia e disponibilidade. Os portugueses não paravam de chegar trazendo consigo os mais diversos problemas, que se iam resolvendo caso a caso. Era uma vez um português que, depois da Segunda Grande Guerra, da Exposição de 1958, da independência do Zaire e outros desaires nacionais, veio à Bélgica e por cá ficou. Era uma vez, uns portugueses que a partir de 1965 começaram a chegar à Bélgica, em constante crescendo, na procura de melhores condições de vida. Os contactos com a população espanhola, já instalada, levou-os a fixarem-se no baixo Ixelles.
Ainda hoje os sinais da portugalidade se notam com facilidade, na Place Eugène Flagey e arredores. Foi ali que se realizou a primeira grande festa dos Santos populares, princípio da década de oitenta! Foi aí que durante muitos anos se realizou a festa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Momentos altos da vida associativa passavam pela força dinamizadora e organizativa da Comunidade, muito antes de se constituir asbl, associação de facto.
No seu percurso histórico travou lutas constantes, venceu sérios obstáculos; promoveu, mobilizou, estimulou, deu consistência e razão de viver a esperança, a fraternidade, a autoestima… Através de tantas iniciativas apresentadas em relatórios, para depois se realizarem com asseverado sucesso: desde o Grupo de Vie Feminine, onde as mulheres se reviam e actuavam; do Grupo de Jovens Puzzle, capaz de transformar, pela força e pela dinâmica do Evangelho; do serviço Social, num apoio constante e decisivo; do curso de costura, momento privilegiado de encontro e trabalho; da escola de deveres, no apoio às crianças em idade escolar; do atelier de música popular portuguesa SolMinho, ensino prático de alguns instrumentos; do Teatro, verdadeira escola dos valores sócio/culturais; do Conselho pastoral e económico, motor das atividades eclesiais; dos cursos de escolaridade, na preparação de adultos para exames do ensino preparatório e secundário; das conferências temáticas, importantes momentos de (in)formação; das festas e dos festivais, importantes ocasiões de diversão popular; a criação de um Grupo folclórico, Rancho de Emaús, a defender as cores e os valores da tradição minhota em Bruxelas; o jornal informativo, O Elo; o comité de Direcção administrativa, determinante no desenvolvimento de todas as atividades; a compra da casa e a constituição de uma ASBL (Associação Sem Fins Lucrativos)... E tantas outras acções que o tempo e a história não apaga!
Em Abril de 1994 foi o assinalar Solene das Bodas de Prata, nos 25 Anos da Comunidade! Com várias e relevantes atividades: edição de uma brochura, com significativos patrocínios e os testemunhos impressos vindos dos vários quadrantes políticos/sociais; por indicação dos sócios foi cunhada uma medalha comemorativa em metal de relevo; significativa e convergente foi a sessão Solene no Centro Lumen, com a presença das várias entidades politicas e religiosas, belgas e portuguesas, com destaque para a vinda de Portugal, do senhor Bispo, D. Teodoro de Faria, emérito da Madeira, então presidente da Conferência episcopal das Migrações e Turismo, que nos deixou consistente mensagem e abundantes bênçãos. Bom mesmo foi ver aquela sala repleta de gente, que aprovou cada discurso, com efusivos aplausos, alegria e entusiasmo. Assinalar o passado, com o olhar no futuro é dignificar a obra e todos aqueles que nela se revêem! A grande lição de Emaús assenta no entusiasmo, na esperança, na alegria e na fraternidade; que o seja por muito e longos anos!
1984 - 15° Aniversário, Prosseguir com fé e determinação “-Somos uma Comunidade de inspiração Cristã, de todos e para todos, cristãos ou não, que aceitam o nosso principio. Queremos e precisamos de trabalhar em paz, conviver com todos dentro do respeito e da dignidade”
1989 – 20° Aniversário, Vinte Anos Pela Calçada de Emaús “-Foram 20 anos a anunciar a esperança e a lutar pela justiça”… “-Queremos comemorar 20 anos da presença da Igreja portuguesa em Bruxelas, fazer memória da nossa caminhada ao longo destes 20 anos, revivendo o passado, numa perspetiva de futuro” in ELO 4/89
1994 – 25° Aniversário, Recordar Para Viver “-Celebrar 25 anos de história e de vida ao serviço do reino é necessariamente fazer Memória do passado, voltando aos tempos fundadores. Não com um olhar nostálgico, mas sim para refontalizar energias e entusiasmo, para pensar o presente e prospectivar o futuro, com o mesmo o espírito e a mesma vontade de sonhar”