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Em Riga



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            Guias de viagem e folhetos turísticos apresentam, como principais ímanes de Riga, o centro histórico e o bairro em que se concentra a mais interessante Arte Nova da cidade.

            No que tange ao primeiro, saliento a casa dos Cabeças Negras, erguida no século xɪv e várias vezes reformada. Demolida pelos soviéticos, foi reconstruída e exibe hoje o galarim de outros tempos. A frontaria, na qual o tijolo predomina, evoca a arquitetura renascentista dos Países Baixos. Guardo também na memória o ambiente de época da residência Mentzendorff e as esculturas de gatos nos torreões de um edifício de 1909. Na catedral, a fusão de estilos é desgraciosa, mas gostei do campanário barroco do século xvɪɪɪ e do púlpito com esculturas de Cristo, dos apóstolos e dos evangelistas. Em matéria de gastronomia, merece encómios o restaurante Folkklubs Ala Pagrabs, sito numa cave sem janelas que decerto afasta os claustrofóbicos. A sua mesa farta exala campo e inverno na boa carne e nos molhos espessos. Ainda na velha urbe, a minha barba foi alvo de todos os desvelos num dos estabelecimentos da cadeia Wood Religion e eu acabei por rogar aos seus responsáveis que se instalassem em Bruxelas: aqui, o baixo nível dos serviços aferra‑se de modo pertinaz a cabeleireiros e a barbearias.

            Na zona em que a Arte Nova sobressai, destaco uma rua (Alberta iela) e o Rīgas Jūgendstila centrs, um duplex onde se recria um lar de Riga no primeiro quartel do século xx.

            Em Alberta iela, as fachadas seguem as melhores regras da arte e são palco de um festival em que se apresentam faraós, cabeças com turbantes, rostos com esgares de espanto e de dor, motivos que radicam na fauna e na flora, janelas trapeziformes. Duas estátuas de esfinge vigiam o acesso a um prédio e dois grifos em baixo‑relevo velam num portal. Embora roce a saturação, a abundância de atavios não prejudica o equilíbrio estético e da rua ressumam harmonia e critério. Flanar nos seus passeios é, sem sombra de dúvida, um céu‑aberto.

            O Rīgas Jūgendstila centrs vale pelo seu todo, mas, se tivesse de distinguir fragmentos, indicaria os vitrais da janela da sala de jantar e também, na sala comum, o friso de margaridas e o ornato em estuque do teto. Ali me cruzei com uma senhora cujos peitos carnudos, sob blusa pingona na qual estava estampada meia guirlanda de tulipas, eram uma mostra balouçante de Arte Nova.

            O centro histórico e as ruas fartas em Arte Nova aprouveram‑me. Porém, não foi aí que senti o autêntico despaísamento, o traslado de espírito que faz esquecer rotinas, pessoas e lugares do quotidiano. Eu preciso disso e, em Riga, experimentei‑o em Ķīpsala e na área do antigo gueto.

            Ķīpsala é uma ilha fluvial com casas de madeira velhas e bem conservadas. O seu chamariz é o museu que honra Žanis Lipke, o «Wallenberg da Letónia» entretanto feito «Justo entre as Nações» por Israel. Ajudado pela mulher e por outros bravos, ele evitou que mais de cinquenta judeus morressem pelas mãos dos nazis. Parece que, mal saem do museu, os turistas se evaporam. Um passeio por Ķīpsala mergulha‑nos, pois, numa atmosfera própria, letã, e, conquanto a vista alcance torres modernas, faz‑nos recuar no tempo. O arranjo e o traço harmonioso das vivendas impelem a pensar num complexo etnográfico ao ar livre, mas as luzes e os afetos que as janelas deixam entrever são típicos de vida familiar corrente.

            Na zona do gueto, habitada por desvalidos, o curso dos anos e a pobreza descoraram as paredes ou deixaram‑nas em petição de miséria e não faltam muros escalavrados. O mau gosto evidencia‑se nas lojas fatelas, num prédio em que a antena parabólica ladeia dois atlantes, nos homens de tronco nu que preguiçam nas soleiras das portas. Um dos poucos edifícios modernos, o do Dodo Hotel, lança tormento estético adicional sobre o bairro.

            Em Ķīpsala e na judiaria, estive longe da mise en tourisme caraterística do centro histórico, carregado, quando por lá andei, de garridice e de fatores que distraíram o meu espírito de viajante: a malta dos cruzeiros, sujeitos que usavam chinelos de piscina, turistas que tinham a língua dos Rolling Stones cosida no fundilho das calças, bêbados em despedidas de solteiro, velhos de má catadura e os seus belos engates asiáticos, grupos densos, o retinir de copos e garrafas de cerveja, o restaurante Rockabilly House, que importa uma certa ideia de Estados Unidos e propõe à clientela salsichas com 1 metro de comprimento.

            No fundo, nihil novi sub sole. Em Riga, assim como noutras cidades, não é nos quarteirões com aparatoso património nem nos sítios propagandeados em grandes parangonas que se respira o ar local. Este forma a atmosfera dos lugares menos protegidos pela estética, mas falhos de elementos turvadores da visita; cada vez mais, são eles que me concitam a viajar.

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Paulo Pego
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