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No concelho da Murtosa



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          No concelho da Murtosa, não vi monumento excecional nem museu que me tenha enchido as medidas. Mas senti felicidade que não tem conto, perto da água, do terreno agrícola, abençoado pela prodigalidade da natureza. E tive o privilégio de, na laguna estendida a meus pés, ver e rever flamingos de bela cor.

         O museu municipal aberto no edifício onde operou a conserveira Comur é digno de atenção. Graças às conservas de enguia, o seu artigo‑bandeira, a Comur diferenciou‑se e distinguiu a Murtosa.

         Criada em 1942, a fábrica de conservas permitiu responder a encomendas volumosas e respeitar condições de salubridade, então exigidas por lei, difíceis de cumprir por parte daqueles que, de forma individual, se dedicavam à fritura e à venda da enguia.

         Atualmente, as instalações fabris da Comur encontram‑se noutro lugar, a zona industrial do Bunheiro, também no concelho da Murtosa, e a empresa comercializa patê, conservas de pescado e, por via das bolas de aveia com legumes e das pataniscas de grão de cenoura, já entrou no mundo dos vegetarianos.

         A visita ao museu regala os olhos — interior fotogénico, exterior limpo e bem‑proporcionado — e, mercê da apresentação das fases do processo conserveiro, da compra do peixe ao encaixotamento das latas prontas para expedição, tem inconcusso interesse pedagógico.

         A Igreja Matriz da Murtosa foi construída no século xvɪɪɪ. A frontaria, de um só pano, é sóbria e torna‑se distinta por via da cornija de figura mistilínea. A seu lado encontra‑se a torre sineira, encimada por coruchéu piramidal.

         No interior do templo, sobressai a capela‑mor. Painéis de azulejos decoram a respetivas paredes e o retábulo, de talha dourada, é vistoso, exibe três colunas salomónicas de cada lado, ligadas por arcos torsos.

         A Murtosa foi terra de emigração. Boa parte dos que partiram plantou no concelho maisons fustigadas por ornatos pindéricos e por formas que mutuamente se agridem.

         Através da toponomástica e de um monumento, obra do escultor José João de Brito, o município honrou os egressos. Bem assim, tampouco falta a pastelaria Emigrante. Aí merendámos, eu e a Jūratė.

         Não me espantei com a conversa de umas criaturas que exploravam até à exaustão um entrecho de cama que terminou com esta partida. Já vivi e ouvi muitas estórias de alcova. Não me surpreendeu a exuberância dos bolos expostos numa vitrina, um deles imitava uma sapatilhona de cores garridas, o outro reproduzia um carro amarelo. Em Portugal e na Bélgica, é fértil a imaginação dos boleiros e dos que requisitam os seus serviços. Assustei‑me, isso sim, com um trio que, em uníssono, via com bons olhos uma candidatura do almirante Gouveia e Melo, «homem limpo», à presidência da República. É preocupante cogitar tal possibilidade. Gouveia e Melo é vaidoso e nada se sabe acerca do seu pensamento político. Não lhe conheço juízos sobre os modos de conformação socioeconómica da comunidade. Que interpretação faz ele dos poderes presidenciais? Que ideias tem em matéria de crescimento económico, de relações laborais, do posicionamento de Portugal no mundo? A sua candidatura representaria a vitória dos que só veem o que lhes põem diante dos olhos e seria a derrota da política, que é e deve ser a mais nobre das artes.

         O que digo a propósito de uma candidatura de Gouveia e Melo aplica‑se, mutatis mutandis, a uma candidatura de Cristina Ferreira. Sim, é uma trabalhadora incansável e senhora de imenso sucesso profissional. Mas os seus códigos de desenvolvimento pessoal e profissional são intransferíveis para a presidência da República.

         Seguimos pela ponte em corcova, passeámos na Torreira. Apresenta boa praia, um par de edifícios com pátina, street art feiosa nos bancos do espaço público, um monumento à varina, do suprarreferido José João de Brito, um painel azulejar evocativo da arte xávega. Na marisqueira Onda Sol, comemos caldeirada de enguias, prato típico da zona. Dose abundante, sabor que satisfez, açafrão e temperos na medida certa.

         No pequeno porto lagunar da Torreira, vimos xarrocos mortos, um murtoense disse‑me que os deitavam fora porque ninguém os comprava.  Mas valeu a pena ir lá: os barcos formavam uma estampa colorida e pitoresca, um deles achava‑se mesmo enfeitado de flores. Ainda na freguesia da Torreira, fomos ao cais das Quintas do Norte, ótimo para uma composição fotográfica do sol‑nado. Porquanto ali estivemos em hora de luz dura, esqueci fotogenias e conversei com um pescador, que me revelou viver do que a Ria de Aveiro lhe dá, mormente enguia, chocos e lampreia.

         O melhor da nossa passagem pelo concelho da Murtosa não resultou de encanto natural ou paisagístico. Antes da visita que recebemos na Pousada da Ria, a visita de amigo verdadeiro, acompanhado pela sua família próxima. Na tarde da vida, e cada vez mais ciente da finitude da condição humana, joeiro familiares e conhecidos, evito que passe a pragana. Fora do âmbito profissional, guardo disponibilidades para as pessoas de quem gosto muito, torres defesas à inveja e à maldade, gente que me faz bem e me estima.  As consequências de tal atitude são libertadoras e as conversas, sem refolhos — pois o seu teor por ali fica —, são gratificantes.

         Em ensaio dedicado à conversa e aos conversadores, Robert Louis Stevenson observa que o tipo de relacionamento com menos raízes materiais é a amizade e isso fá‑lo crer que a boa conversa ocorre com mais frequência entre amigos; a conversa é, ao mesmo tempo, o cenário e o instrumento da amizade[1]. Olhando ao que sou e faço, Stevenson acertou no alvo.

 

 

[1] STEVENSON, Robert Louis, Apologia do ócio. A conversa e os conversadores, tradução de Rogério Casanova, 2.ª edição, Lisboa, Antígona, 2018, pp. 39‑40.

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Paulo Pego
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