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Páre, escute, olhe, não demora nada. É um instante até que se aperceba de que algo está definitivamente errado.
As pessoas andam pelo nosso mundo rico e desenvolvido, ouvem as notícias que inundam os canais radiofónicos e televisivos de informação, lêem os jornais e as revistas publicadas em papel ou online com artigos sobre a actualidade em que vivemos, enquanto conversam com a maior frieza sobre o que leram ou ouviram, ou, no melhor dos casos, sem se dignarem a comentar.
Comem e bebem descontraidamente e sem perda de apetite com o som e a visão das imagens escabrosas que continuadamente aparecem a ilustrar as notícias, ignorando o mal que nos metem pelos olhos dentro, como se nada estivesse errado, como se tudo estivesse bem, como se não houvesse sofrimento, maldade e falta de empatia, numa demonstração de insensibilidade galopante que já contaminou a maior parte da população dos países chamados de desenvolvidos, tornando-nos um simulacro de humanos.
Todos os dias nos relatam os crimes de guerra na Ucrânia e noutros lugares onde a guerra se instala, os crimes de morte por motivos passionais ou por roubos violentos, no nosso país ou no estrangeiro, os crimes que os pro-life, lá longe, praticam, obrigando crianças que foram violadas a não poderem abortar, sem que a violência sofrida por essas mesmas crianças de nada importe, perdendo a importância para uma nova vida que talvez se venha a formar, os crimes de morte que também lá longe, noutras partes do mundo, mulheres sofrem porque não terem o hijab bem colocado, ou os crimes de subjugação de mulheres, impedidas de estudar, ou de conduzir um automóvel, ou de sair à rua sem escolta masculina, os crimes de mutilação de mulheres noutros lugares, os raptos de crianças, os crimes de escravidão de pessoas para trabalhos forçados ou os crimes de escravidão sexual, ou, ou, ou.
Tanto crime, tanta morte, tanto roubo, tanta imoralidade, tanta coisa má, e as pessoas ouvem, vêem, e não reagem. É tudo como se nada fosse, como se estivesse tudo bem.
Já não há empatia, já não há valores, já não há princípios nem ética, já não há respeito pelos outros, idoso é igual a velho e sem valor ou interesse, e já ninguém sofre com o sofrimento alheio, embora haja quem represente muito bem esse sofrimento desde que lhe traga audiências, dinheiro, votos, visualizações e outras benesses quejandas.
O que se ensina aos nossos filhos e netos, com as políticas de ensino actuais e a ausência dos pais como educadores, tende a limitar a possibilidade de formar seres humanos com bom carácter, com valores e com princípios, para além de conhecimentos técnicos.
E eu devia gostar de pessoas, e gosto, muitas há que merecem que se goste delas, mas a percentagem parece ser quase insignificante.
José Fernando Magalhães
“- Por decisão do autor, este artigo encontra-se escrito em Português, e não ao abrigo do «novo acordo ortográfico».”