Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor!
Portugueses: de mestres do desenrascanço até à ignorância das coisas
4 minutos de leitura
Olhando para o passado, percebo que me fui libertando daquelas coisas que me chateavam, irritavam profundamente. Naquele tempo não aceitava que as pessoas pudessem ser diferentes face a uma realidade só, cada uma tem a sua própria opinião e que cada um vai fazendo o seu caminho, na aprendizagem, na evolução, no amadurecimento das ideias e na forma como vêem o mundo.
Dizem que é da idade. À medida que vou ficando mais velho, comecei a abrandar o ritmo das ideias, mas deu-me espaço para as amadurecer de forma mais pensada.
Não sei se te acontece o mesmo, mas agora não me deixo abater com uma qualquer ideia estapafúrdia que choca com os meus princípios.
Os princípios, esses, foram também mudando ao longo da vida, pois se antes gostava do verde, agora gosto do azul. A vida é mesmo assim, que ninguém diga que é fiel à mesma cor desde que nas até que morre, que isso de fidelidade nada vale. Mais importante é perceber se tu realmente gostas da mesma cor durante toda a vida ou se és escravo dessa cor apenas para dizer que és firme nas tuas convicções.
Voltando ao tema que me traz hoje aqui, a alergia a certas convicções, ignorâncias e crenças que me deixam furioso. Bem, deixavam no passado.
Desde há uns anos atrás que passou a correr a moda em responder a tudo o que mexesse e não interessasse: «não percebo nada disso». Bem, aquele tipo de resposta deixou-me confuso num primeiro momento e depois passou a incomodar muito mais. Percebi que era uma simples forma de descartar sobre qualquer tarefa ou trabalho que não interessasse. Aquilo deixava-me furioso, mas felizmente esse tempo já passou e agora não passo cartão nenhum.
Portugueses mestres no desenrascanço
Essa expressão é usada para descrever a capacidade de encontrar soluções criativas e improvisadas para resolver problemas ou lidar com situações difíceis. Somos conhecidos por encontrar soluções simples e eficazes, muitas vezes com recursos limitados.
Mas a dúvida instala-se.
Se os portugueses são mestres no desenrascanço e até já foram objecto de estudo, porque é que agora dizem «não percebo nada disso»?
De facto, cultura do «desenrascanço» é um padrão que pode tornar-se preocupante nas empresas. Sabemos improvisar como ninguém, mas nas empresas isto pode significar baixa produtividade. Com uma planificação adequada, toda a gente trabalharia com mais calma, mais segurança, eficiência e menos stress.
Mas devido ao seu espírito empreendedor e à sua capacidade de se adaptarem a diferentes circunstâncias, pode tornar-se numa qualidade.
A razão do sucesso dos emigrantes portugueses
Quando os portugueses emigram, vão com vontade de trabalhar e acumular poupança ou simplesmente viver no país de acolhimento sem pensar em regressar definitivamente a Portugal. A capacidade de gestão e organização das empresas fora de Portugal parece ser mais elevada contribuindo para uma maior produtividade. Os emigrantes portugueses sob gestão das empresas de acolhimento parecem tornar-se mais produtivos. E nessas empresas até podem estar portugueses no topo da gestão. Nessas empresas de acolhimento parece não existir a palavra «desenrascanço», nem mesmo com portugueses a liderar ou a trabalhar noutras funções. (https://www.luso.eu/colunistas/cronicas/portugal-pais-de-imigrantes.html)
Da arte do desenrascanço até ao «não percebo nada disso»
De facto, parece que passamos de um extremo ao outro. Antes éramos polivalentes e resolvíamos tudo, mas agora tornamo-nos em especialistas de qualquer coisa e tudo o resto vai bem com um «não percebo nada disso».
Será que não existe um meio-termo?
Por exemplo:
cumprir todas as regras no mundo profissional e desenrascar um tubo rompido ou um fio elétrico descarnado lá em casa. Ou até desenrascar na cozinha com a criação de pratos deliciosos a partir de ingredientes simples.
Conselho: se fores um total aselha com tudo onde tocas, então fica-te pelo «não percebo nada disso».
Eu já não me chateio com um «não percebo nada disso» e fico rendido ao mestre do desenrascanço, mesmo sabendo que possa não ser uma solução definitiva.