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Anónimo Cristóvão não chegou sozinho a Bruxelas. Na mala dos seus pincéis trouxe a luz de Portugal e na sua mente uma vontade forte de olhar para estas terras do norte da Europa com os olhos de um caloroso artista do sul.
António Cristóvão pretende ir ao encontro do nosso desejo de sonhar e, numa altura em que Portugal é um destino turístico importante, o turista do norte da Europa vai até ao nosso país à procura de sonho e da luz que tanta falta aqui lhe faz. Mas este artista, embora não desejando contrariar o ímpeto de viajar, consegue prolongar as impressões e dá-nos a ideia de continuarmos a viajar por Portugal adentro, ao olharmos para as suas telas. As cores ternurentas lembram-nos as bondosas pessoas das nossas terras que gostamos de saudar na rua, sem mesmo as conhecermos, e de até as convidarmos para nossa casa, apenas porque desejamos comunicar, já que as sentimos semelhantes a nós.
Para continuarmos a viajar até Portugal, uns vendem-nos pastéis de nata, outros instalam-se aqui com a nossa saborosa comida onde se vai matar saudades para frequentarmos o ambiente descontraído e acolhedor que se encontra no nosso país. Ao mesmo tempo que se vai saboreando a comida portuguesa, desfilam na memória as mil e uma imagens e boas lembranças que gostaríamos de evocar.
E são estas boas imagens que António Cristóvão quer oferecer aos que o visitam, prolongando o ambiente de luz que encontraram no verão em Portugal. E, amavelmente, convida-os a subir no eléctrico da Graça, o velhinho e ternurento eléctrico 28, e mostra-lhes os seus quadros com o eléctrico no início da Ferreira Borges, com os seus edifícios arte-nova, ou estacionado em frente da Basílica da Estrela, ou ao lado do edifício da Assembleia da República.
Compreendo a dificuldade que o António Cristóvão tem em colocar o cavalete nos meandros das ruas estreitas do Bairro alto, mas imagino-o já na Praça Camões com a sua paleta a imortalizar o 28, em pleno Chiado, quase ao lado de estátua de bronze de Fernando Pessoa, antes de desaparecer por entre a multidão que constantemente enche aquela zona pedonal. Já chegou à Rua Augusta, e António Cristóvão abre o estojo dos pincéis e não perde a ocasião de associar a ternura do 28 ao Arco da Rua Augusta. Aproveita a perspectiva da Sé de Lisboa para a colocar sobre a tela, com um fundo verde-escuro, para deixar sobressair o amarelado do eléctrico que pouco a pouco desaparece, subindo para a Graça.
O eléctrico passou, mas o António Cristóvão continua enamorado da sua Lisboa e não se cansa de imortalizar os cantos e recantos desta cidade bafejada de luz e da água diáfana do Tejo
A paleta do António Cristóvão continua activa nesta cidade de Bruxelas. Já tem saudades da luz de Lisboa, mas é esta mesma luz que pretende trazer para esta cidade. E no seu atelier, noto os frontispícios das casas ditas flamengos do Sablon pintados a cores airosas que identifico com a luz calorosa do nosso Portugal, que até parece que foram encomendados em Lisboa e chegaram aqui totalmente transformados.
Não se esgota aqui a fecundidade artística de António Cristóvão. As paredes da pequena e acolhedora Galerie Pappilia, na rua de la Brasserie n° 71, em Ixelles, estão cheias de quadros rivalizando em inspiração e beleza uns com os outros, mas até gostaria de sugerir ao António Cristóvão para levar a Grand-Place de Bruxelas até Lisboa, para, à borda do Tejo, lhe incutir as cores que completarão a exuberante arquitectura renascentista, já que a perfeição é uma ascese nunca terminada.