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Caro Mário Ferreira:
faço votos de que esteja bem.
Venho partilhar algumas impressões que a sua viagem ao espaço em mim espoletou.
Espero que a expedição o tenha deixado satisfeito. Fê‑la, talvez, em busca de nova experiência, de viver algo inacessível ao comum dos cidadãos. Fica nos anais da memória como o primeiro português a ir ao espaço e isso parece grande façanha. No entanto, permita‑me assinalar que ela não cria benefício para a ciência nem para a humanidade. E o prazer que teve diluir‑se‑á e não deixará rasto significativo. Será, diria, regozijo equivalente ao que sentiram os tugas que primeiro compraram um televisor a cores ou feriaram nas Maldivas.
Quer suscitar a admiração dos seus compatriotas? Na próxima vez que se dispuser a gastar uma fortuna em ato que o crave na lembrança de todos, sugiro que o faça em prol da comunidade ou dos trabalhadores das suas empresas (já estou a pressupor que cumpre as suas obrigações fiscais e aqueloutras que o direito do trabalho lhe impõe).
Note que não sou moralista, execro os que o são. Devo mesmo dizer‑lhe que cortei relações com algumas pessoas — tios e tias, designadamente — que me deram mostras de um moralismo que as converteu em criaturas insuportáveis.
Com os meus cumprimentos,
José Paulo Pego
13.8.2022