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Geralmente, é no fim da vida que se escrevem as memórias, após uma carreira exercida num posto importante para dar a conhecer a contribuição na função desempenhada.
Ao descreverem uma época, os historiadores baseiam-se, em certa medida, também nas memórias que, por vezes, se assemelham a biografias, onde podem encontrar elementos complementares para as suas investigações.
Por aquilo que se tem lido na imprensa, as memórias do Príncipe Harry são de um outro género. Não tem mais que 38 anos de idade e a sua ambição é sair da sombra e projetar-se nas luzes da ribalta com um autêntico lavar de roupa suja porque sabe ou porque lhe disseram que isso dava muito dinheiro.
Eu nunca comprarei nem lerei as memórias do Prince Harry. Para já, não é ele o autor das suas memórias. Foram escritas por um escritor com grande experiência que apagou o seu nome (os designados ghostwriters, geralmente bem pagos) nesta biografia, para transmitir as emoções e os desejos do Príncipe Harry. Apesar de ter sangue azul e ter recebido a educação na monarquia mais antiga da Europa, a sua capacidade seria bem limitada para transmitir uma narrativa que parece estar a empolgar um público ávido de penetrar nos arcanos da casa real da Inglaterra que, pelos vistos, não tem nada de glorioso.
As memórias do Príncipe Harry são um autêntico lavar de roupa suja, não hesitando fazer revelações que o comum dos mortais morderia três vezes na língua antes de as dar a conhecer. Alguns não hesitaram em classificar os factos confessados de autênticas criancices de um verdadeiro imberbe e imaturo. A quem poderá interessar os pormenores da sua vida sexual e, sobretudo, a maneira como este jovem príncipe perdeu a virgindade? E a disputa com o irmão William quando apodou Meghan de mulher difícil e malcriada, o que obrigou Harry a replicar fisicamente, recebendo do irmão uma resposta digna de um excelente jogador de judo, projetando-o em cima da gamela do cão, cujos cacos causaram ferimentos nas costas de Harry?
Revelações mais inquietantes são as das mortes que causou no Afeganistão, cujas revelações são contrárias à mais elementar deontologia do exército, já que um soldado nunca se vangloria das pessoas que matou no decurso das suas incursões, ele que se diz profundamente respeitador da instituição militar. Como pai de família e homem casado, estas revelações são inexplicáveis e verdadeiramente patéticas, até mesmo punidas criminalmente. E não se diga que foram pronunciadas de uma maneira precipitada, por ocasião de uma entrevista. Estão gravadas para sempre num livro. E não tem perdão porque teve tempo de refletir ou mesmo de ser aconselhado a não as revelar.
Parece que o Príncipe inglês tem ainda material para fazer um segundo liivro de memórias, entusiasmado que está a constatar o extraordinário volume de vendas.
Harry pretende passar por uma vítima. Vítima da sua educação, da morte precoce de sua mãe, do ambiente rígido e cheio de preconceitos da monarquia. O príncipe-vítima é a sua imagem de marca. Mas qual é o resultado financeiro da sua vitimização? Os livros, as séries, as entrevistas e o mais que ainda virá, como jogos, puzzles, marcas, etc. Quanto não irão reverter em favor de um príncipe que escolheu este estranho método de fazer dinheiro?