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Feira do CÔ - A Necessidade de Revitalização das Tradições Artesanais - Feiras Populares
No dia 5 de agosto, resolvi comprar uma ferramenta agrícola que já ninguém usa.Sempre quis ter uma que se juntasse às outras que herdei de meus pais, tios e amigos.
Desta vez, queria comprar um "Malho" e ver se encontrava também um "Gadanha".
Segui o caminho do Cô.
Para quem não sabe, Cô é uma aldeia que pertence a Penamaior, Paços de Ferreira, e tem uma Feira quinzenal que já foi uma das mais importantes do norte do país, quando ainda existia a Feira do Gado.
Estive lá, durante a minha meninice, dezenas de vezes. O meu avô vivia em Paços, onde passei quase todas as minhas férias de verão, e tinha tios e primos por parte da minha mãe, em Freamunde, Cô, e Lousada, para onde frequentemente "fugia" na velha "chocolateira".
A feira era um mundo rico e diferente. Fernanda, a prima da minha mãe, que era muito mais velha que eu, tomava conta de mim mim e não me deixava afastar por muito tempo. Arnaldo, o seu irmão, aprendeu com o pai, Serafim, e tornou-se um excelente Funileiro/Latoeiro, chegando a lecionar num colégio de redondezas.
Nos dias de Feira, lá estava um lugar reservado, a poucos metros da casa e oficina deles, mesmo junto à estrada, onde Fernanda expunha os diversos trabalhos do irmão, fossem eles em cobre ou chapa. Alambiques, lanternas/candeias, chocalhos, vasilhas, púcaros, baldes, regadores, e por aí fora.
Sempre que podia, ou era dia da feira do gado, lá fugia eu para lá das casas, e depois de apreciar as vacas e os bois que lá estavam, e toda aquela gente a ver, apreçar, discutir, comprar, lá voltava, devagar, olhando as peças em madeira e ferro, as foicinhas, as gadanhas, pás, picaretas, sachos, sacholas, forquilhas, ancinhos, arados, malhos, cangas, grades, crivos, peneiras, masseiras, e até carros de bois.
Bem, mas lá fui eu comprar o meu malho.
Na verdade, há mais de vinte anos que não ia a uma feira. Entrei pelo lado que eu mais conhecia, perto da casa dos meus primos, e fui à procura.
Passei pela zona dos enchidos, poucos, pelas pencas e batatas e outros frutos da terra, também poucos, e entrei nas roupas. Bancas e bancas de roupa de fraca qualidade e baixo preço. E mais bancas e bancas de roupas, iguais às primeiras, e sapatos e botas e sapatilhas, todas de qualidade comparável às roupas que os ladeavam. E peúgas, e roupas, na sua maioria de mulher. E numa ponta, lá em cima, criação, uns quantos frangos e coelhos, virados para o nada, mas encostados às roupas e sapatos.
Depois um espaço com plantas e outro com atoalhados, e por fim lá vi um com utensílios de lavoura, mas poucos. Vassouras muitas, malhas de ferro para jogar, fogões para grelhar, peças em plástico, facas, catanas, mais uma quantas coisitas, mas nada de malhos ou gadanhas.
Trabalhos em madeira, ou em ferro, ou em folha de flandres, parece que já não há quem faça.
Muita gente por ali, a comprar pouco e a encher os espaços das roupas e de sapatos, que são cerca de noventa por cento do espaço.
Feira? Chamam a isto uma feira popular? Não será antes, e só, uma “feira de roupa e sapatos”?
Se calhar é … uma tristeza!
As feiras populares do norte de Portugal são eventos tradicionais que atraem visitantes de todo o país e até de outras partes do mundo. Assim, os dias de hoje são marcados pela venda de roupas, sapatos e outros produtos, mas nos últimos anos houve uma diminuição significativa na disponibilidade de produtos tradicionais de cada região, como alfaias agrícolas, carpintaria, olaria, funileiros e outros artesanatos.
A venda de roupas e calçados é fundamental e atrai muitos visitantes, mas também é preciso preservar as tradições e valorizar o património cultural de cada região. Hoje, é comum vermos mercadorias produzidas em massa e importadas, resultando em homogeneidade cultural nos mercados populares. No entanto, devem ser tomadas medidas para promover a revitalização das antigas práticas artesanais.
Em primeiro lugar, é fundamental promover a sensibilização para o valor dos bens tradicionais e artesanais. É preciso incentivar a valorização desses produtos, demonstrando o seu impacto na cultura local e, eventualmente, na economia de cada região. É necessário criar um clima de valorização e respeito por essas tradições, a fim de despertar o interesse das novas gerações, e nas futuras, em aprendê-las e dar-lhes continuidade. Já não se encontram com facilida, e na de carpinteiros, funileiros/bate-chapas, eletricistas, picheleiros, e aqueles que existem têm trabalho contínuado e bem remunerado.
Para alcançar essa revitalização, é preciso investir na arte, e na educação e formação de artesãos. Promover cursos, consultórios e oficinas que ensinem as técnicas antigas às novas gerações, é fundamental, para garantir a perenidade dessas práticas. É fundamental envolver as escolas e as instituições de ensino e, ao mesmo tempo, incentivar os jovens.
Outra estratégia é facilitar a entrada de artistas no mercado, disponibilizando espaços em feiras populares, especificamente para exposição e venda dos produtos tradicionais. Criar um ambiente acolhedor e especializado para essas artes, com infraestruturas adequadas, pode inspirar o seu trabalho e atrair mais visitantes interessados em produtos únicos e individuais.
Cabe às Câmaras Municipais, neste caso à de Paços de Ferreira, organizar e promover tais programas, ou podem as Juntas de Freguesia tomar tais decisões?
Da mesma forma, é fundamental incentivar o turismo cultural durante as feiras populares. A organização de visitas guiadas, exposições e demonstrações práticas de arte pode cativar os visitantes, proporcionando uma experiência única e destacando as tradições locais. É preciso criar um ambiente que favoreça o diálogo entre visitantes e artistas, estimulando o autoconhecimento e favorecendo uma maior compreensão e valorização do trabalho realizado. Finalmente, a colaboração entre as várias entidades locais é fundamental para o sucesso desta revitalização. Municípios, associações culturais e comerciantes devem unir-se para promover a inclusão de produtos tradicionais nas feiras populares. A formação de alianças e programas de apoio financeiro podem auxiliar na promoção da produção artesanal local, garantindo que as tradições permaneçam vivas e atuantes.
“À atenção dos Vereadores da CMPF Júlio Morais e Paulo Ferreira”.
As feiras populares, como a Feira do Cô, podem e devem reintroduzir espaços de valorização do artesanato tradicional, com medidas concretas para dinamizar a produção e comercialização de bens tradicionais. A revitalização de antigas práticas é uma oportunidade para a preservação do patrimônio cultural, bem como para o desenvolvimento econômico das regiões. É fundamental que todas as partes envolvidas trabalhem juntas para atingir esse objetivo e garantir que os produtos tradicionais recebam a atenção que merecem nas feiras populares.