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Foi através de um livro para o qual me foi solicitado um prefácio, que tomei conhecimento da existência do filósofo belga Émile Dantine. Fui investigar. E como os filósofos são como as cerejas e atrás dele vieram outros, vou conter-me. Nasceu em Huy, onde viria a ser bibliotecário, o que parece ser uma tendência de alguns filósofos e poetas das gerações próximas, como é o caso de António Telmo (em Sesimbra), Sampaio Bruno (no Porto), Herberto Helder e António Quadros (bibliotecas móveis da Gulbenkian),Jaime Cortesão e Raul Proença (Biblioteca Nacional), e não prolongarei a lista.
Dantine nasceu quatro anos antes do nosso Pessoa, e como este, tinha uma forte ligação ao pensamento esotérico. Para além do domínio do italiano e do russo, estudou, na Universidade de Liège, latim e grego clássicos, e ainda falava português. Publicou mais de trinta livros cujas temáticas andam à volta dos temas da língua, da história e da metafísica.
Estudou ainda a língua assíria para poder investigar as Tábuas dos Sumérios. É importante a ligação às artes desta geração de pensadores, nomeadamente o seu amigo Péladan, mais conhecido do que ele, com quem esteve durante uma conferência no Hotel Ravenstein em Bruxelas,onde se encontravam os Rosacruzes de uma Ordem intitulada «Católica e Estética do Templo e do Graal», que sucedeu a uma outra Ordem Rosacruz Cabalística. De qualquer modo, o que pretendo demonstrar, ou sobretudo chamar a atenção para isso, é a ligação destes pensadores ao esoterismo e às artes, o que, como disse, acontece também com Pessoa.
Nos Salões Rosacruz de Paris reuniu Péladan uma plêiade de artistas. Muitos por lá passaram, apenas para ver, como Gustave Moreau, Zola e Verlaine, ou participando directamente. Foi o caso do pintor simbolista belga Jean Delville, co-responsável pelo terceiro Salão, realizado já não em Paris, mas na Bélgica. Por esta altura, finais de século XIX e inícios do século XX, foi a Bélgica um importantíssimo centro esotérico com contornos estéticos.
Dantine fundou uma comissão e um instituto dedicados à investigação científica dos fenómenos ocultos e metafísicos e a sua dedicação à cultura e à instrução foi reconhecida quer pelo governo, quer pelo rei. Em 62 foi admitido em De Leopoldsordre, ordenado cavaleiro desta Ordem de Leopoldo I, uma das mais prestigiosas do Estado Belga, atribuída a serviços distintos prestados em prol da nação belga, por decreto real.
Este homem, autor de mais de trinta livros, fundador de institutos de pesquisa, que tocou a vida de tantas pessoas e de uma nação, terá proferido no leito de morte, segundo testemunho da filha, as últimas palavras: «A gente não sabe nada». Algo que apenas alguns, os que sabem alguma coisa, têm a coragem de afirmar. Por saberem que é na Escola do silêncio que o conhecimento é conferido.