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Cheguei cedo à minha leira.
O céu de chumbo pesava e anunciava uma chuvada quente. Afinal, ainda estamos no Verão. Setembro começou ontem.
Abri portas, arejei as casas, liguei as luzes e a bomba da água e fui dar uma volta pelos socalcos do terreno de que tanto gosto, até chegar ao tanque de rega, lá no cimo, de onde a vista é quase deslumbrante.
As videiras estão carregadas de uvas e quase prontas para a vindima.
O milho já foi apanhado, mas tinha sido quase todo dizimado pelos melros.
As batatas já há algumas semanas que estão armazenadas.
Das couves, de três ou quatro qualidades diferentes, já comemos quase metade, assim como dos pimentos e dos tomates.
Pepinos e já acabaram, assim como as vagens e as alfaces. Do alho francês já só sobram meia dúzia de pés.
As nabiças estão viçosas e os nabos a medrar.
Da fruta, está quase tudo no fim. Acabaram as ameixas, os magnórios, as amoras, os pêssegos e quase todas as peras. Maças ainda há, mas a maior parte são muito ácidas, são reineta, boas para assar. As laranjas ainda estão verdes, assim como as tangerinas e as tângeras. As figueiras estão carregadas, mas ainda é cedo para esta segunda vaga. Os maracujazeiros continuam a fornecer.
O castanheiro está com bom aspecto, e as nogueiras carregadas. As oliveiras não estão mal.
Os marmelos foram apanhados ontem. Na próxima semana já terei marmelada. Este ano quem ma vai fazer é uma outra senhora. Quem ma fazia, e fez durante dezenas de anos, já tem muita idade e já não pode. Estou ansioso para ver como vai ficar.
Dada que estava a minha volta pela horta e pomar, comecei a descer, leira a leira, vasculhando cada centímetro do terreno.
Ao longe um restolho surdo vindo de sul, invadia o ar parado. Nem uma brisa!
Dei por mim a interrogar-me. – O que será?
Pouco a pouco, senti o barulho a aumentar.
Já chegado cá abaixo, junto à casa, reparei que, a cerca de quatro ou cinco metros de mim se erguia uma parede de água. A chuva, cada vez mais forte estava ali, parada, como que a observar-me. De vez em quando uma ou outra gota atingia-me a cara, mas a terra estava completamente enxuta, enquanto que a do vizinho começava a encharcar. Encantado com aquela parede, assim estive, quieto, olhando, uns longos momentos. Talvez quase cinco minutos, até que a chuva se cansou e avançou para mim.
Faltavam três metros para chegar à porta de cima e pus-me lá num pulo. Mal entrei a água desabou em cima do sítio onde eu tinha estado e seguiu para norte, regando a terra sequiosa.
Adoro o barulho da chuva quebrando o silêncio habitual nestas paragens, e o subsequente cheiro a terra molhada.
Duas horas depois ainda chovia, chuva certa, ritmada, medianamente forte, de modo a não estragar. De tarde, pelas duas horas, a chuva já tinha parado e o sol, suavemente quente, veio aconchegar e aquecer a terra.
Nessa altura já eu estava de alma lavada!