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São cada vez mais os portugueses emigrantes na Suíça que após a reforma, e por incapacidade económica de permanecerem naquele país onde viveram décadas, regressam a Portugal, onde se sentem novamente “estrangeiros”, segundo a investigação de uma socióloga portuguesa.
“Partir ou ficar? Transição para a reforma e migração de regresso de casais portugueses na Suíça” é o nome da tese de doutoramento em sociologia de Liliana Azevedo, defendida pela autora no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
O estudo centra-se na transição para a reforma de casais portugueses emigrados na Suíça e visou apurar “o que acontece no fim da vida profissional, quando o principal motivo da emigração, o trabalho, deixa de existir”.
Os dados recolhidos apontam para uma aceleração, na última década, dos movimentos de saída da Suíça de portugueses com mais de 60 anos e sugerem que, na hora da reforma, o regresso a Portugal é cada vez mais frequente.
Com os principais fluxos migratórios de Portugal para a Suíça a acontecerem entre 1984 e 1991, altura em que entraram cerca de 54 mil portugueses por ano, as aspirações e objetivos destes emigrantes foram-se alterando durante o seu percurso.
“A maior parte tinha realmente como projeto de vida ir uns tempos [para a Suíça] e regressar. Para esses, parece que estão a concretizar um projeto de vida pessoal, mas os projetos de vida foram mudando ao longo do tempo e muitas pessoas quando chegam aos 60, 65 anos, já não pensam em regressar de forma permanente a Portugal”, disse à Lusa.
E acrescentou: “O que se verifica é um constrangimento de ordem económica. Todo o sistema suíço, nomeadamente o sistema de reforma, não favorece que estas pessoas que ocuparam os escalões mais baixos da economia suíça e que têm pensões relativamente baixas” fiquem nesse país.
“O que leva os portugueses a regressar é a dificuldade ou a incapacidade de muitos em ficar na Suíça”, sublinhou.
A investigação apurou que, na hora de decidir, os cônjuges nem sempre estão de acordo, tornando mais visíveis as assimetrias de uma vida, com as mulheres em desvantagem, uma vez que as suas trajetórias profissionais foram, frequentemente, mais precárias e irregulares e, logo, as suas pensões são inferiores às dos maridos e nem sempre dispõem de um fundo de previdência profissional próprio.
O regresso a Portugal revela-se, para muitos, “uma nova migração”, neste caso uma “migração de regresso”.
Após muitos anos num outro país, e sem acompanhar o quotidiano em Portugal, apesar de o visitar e seguir através da televisão, “quando chegam muitas vezes não estão eles próprios preparados para o desfasamento que têm”.
“O primeiro e segundo ano são muito difíceis em termos de reintegração, é preciso voltarem a apropriar-se dos códigos e das normas, as pessoas já não sabem como lidar com as instituições portuguesas, até porque houve uma grande digitalização no país. Há este sentimento de se sentir novamente emigrante, de pessoa que vem de fora”, referiu.
Para Liliana Azevedo, que continua a investigar a emigração portuguesa na Suíça, “as autoridades portuguesas não estão conscientes, não estão alertas e atentas para os emigrantes mais envelhecidos. Todo o discurso mediático mostra que a preocupação é com a mão-de-obra, os jovens, os que vêm para trabalhar”.
“Há um entendimento de que as pessoas irão regressar de qualquer forma e não é preciso fazer nada de concreto para que regressem”, mas “temos de estar atentos para as necessidades específicas e para os lugares para onde regressam”, defendeu.
“Alguns estão a regressar para zonas que entretanto foram despovoadas, no interior, aldeias, não encontram serviços de que precisam”, disse a socióloga, alertando para “o forte potencial de dinamização da economia local” que estes emigrantes reformados representam.
Mas também há quem queira regressar a Portugal, mas não ao seu local de origem, que entretanto foi esvaziado dos familiares e conhecidos, o que é uma ameaça em termos de solidão.
Estes portugueses também regressam com necessidades em termos de saúde, até porque “são pessoas que ocuparam postos de trabalho desgastantes, com morbilidades várias e necessitam, de facto, de serviços especializados”.
Por esta razão, “podem às vezes ser vistas pelas populações locais como alguém que vem pressionar ainda mais os serviços de saúde”.
Para Liliana Azevedo, estes desafios acabam por ser ultrapassados, mas as autoridades podiam ajudar a minimizar os seus impactos, promovendo a informação e facilitando o seu relacionamento com as instituições.