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É Nisa, é nosso



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            À Jūratė, que a Ceifeira quase levou

 

            Nisa, terra transtagana. A localização da vila resulta de um ato de agradecimento régio. No conflito entre D. Dinis e o seu irmão, D. Afonso, Nisa‑a‑Velha manteve‑se fiel ao primeiro. Ressentido, D. Afonso ordenou às suas tropas que a destruíssem. D. Dinis levantou uma povoação fortificada, a cerca de 4 quilómetros da original, e entregou‑a aos que, por lhe terem permanecido leais, viram os respetivos haveres desfeitos. Assim nasceu a nova Nisa, que mais tarde se desenvolveu extramuros.

            Estacionei o carro e logo me internei no centro histórico, é dizer, na zona dantes protegida por muralhas.

            A Igreja de Nossa Senhora da Graça deve o essencial da sua feição ao restauro de que foi alvo no século xvɪɪɪ e vai buscar finura às duas torres com olhais, rematadas por coruchéus cónicos e pontiagudos, ao frontão em curva e contracurva e à combinação do branco com o amarelo dos cunhais e do embasamento.

            Depois de visitar essa casa de oração, flanei na Rua de Santa Maria: exibe calçada muito bonita, de barro e mármore, com motivos colhidos na olaria nisense. Para o encanto da Praça do Município, uma das mais formosas que conheço em Portugal, contribuem a Casa Lopes Tavares, os paços do concelho, de esboço neoclássico, a Igreja da Misericórdia, com portal renascença, a Fonte do Frade, o pelourinho e o jardim.

            Acho graça à louça pedrada, não podia deixar de ir ao Museu do Bordado e do Barro, cujo núcleo central está situado nas instalações de uma antiga cadeia. É fácil identificar portas e grades próprias de estabelecimento prisional.

            No rés do chão, deparei com uma mostra temporária de roupa interior velha, com alguns decénios. Por entre blusinhas, corpetes, combinações, ceroulas e camisas de dormir, abri caminhos de nostalgia e descerrei memórias de trajes menores que cheguei a ver nas casas dos meus avós. Outrossim, levei com um retrato da sociedade no tempo do Estado Novo — fotos e painéis vincavam que apenas às meninas e às mulheres cabia tratar da roupa (lavar, engomar, remendar).

            O andar intermédio é dedicado à olaria pedrada de Nisa, às peças de barro decoradas com pequenas pedras de quartzo. Cântaros, cantarinhas, moringues, copos, infusas, bicheiras, asados, mealheiros, cabaças e jarras são exemplos dessas criações. Numa fase inicial, a olaria nisorra tinha cariz utilitário, servia para trazer água das fontes e conservá‑la fria. Em quadra posterior, quando as casas passaram a ter água potável, a louça tornou‑se adorno. No presente, estão ativos três velhos de guerra da olaria e cabe às suas consortes incrustar as pedritas no barro.

            Os bordados ne sont pas ma tasse de thé. Porém, com vista a aprender, perlustrei vários trabalhos expostos no andar superior do antigo cárcere. Era norma as raparigas cedo começarem a bordar as roupas do seu enxoval e outras tantas para venderem e desse jeito juntarem dinheiro para comprar casa. Ganharam fama os alinhavados (o nisense confia na sua qualidade e assevera que «rompe‑se o pano, mas fica o bordado»), as aplicações em feltro (utilizadas, por exemplo, nos centros de mesa e nas saias de camilha), os coberjões (cobertores bordados), os xailes bordados, as rendas de bilros (ora formam uma peça, como o naperão, ora são aplicadas à volta de outras, como as fronhas de almofadas) e a frioleira (espiguilha que se emprega, por exemplo, para enfeitar golas). Dentre as composições à vista, impressionaram‑me, em particular, os coberjões negros com motivos florais.

            O segundo polo do Museu do Bordado e do Barro funciona num edifício tradicional. Nele fiquei a saber o que é um ferrado, vasilha que, durante a ordenha, recebe o leite das ovelhas e das cabras. Notei que a funcionária ali presente prestava o serviço que lhe competia e ainda um outro de suma importância: ouvir os idosos que lá se apresentavam para falar das malquerenças da vida.

            A Casa do Forno resulta da requalificação, pelo município, de um forno comunitário. No passado, uma forneira, paga à maquia (retinha parte do produto do trabalho), dirigia a cozedura do pão e dos bolos, mormente do bolo finto, folar pascal alentejano.

            Deixei o centro histórico e almocei n’O Cantinho da Maria. Aviei o palato e o estômago com sopa de alho‑francês e com afogado de borrego, vendido como prato típico da vila. Satisfizeram‑me, mas o melhor foi o atendimento, entregue a uma jovem simpática. Visto que o bom serviço é o melhor feitiço, pontuação elevada para O Cantinho da Maria.

            Numa sala de Nisa, encontra‑se exposta uma obra, da incontornável Joana Vasconcelos, que evoca o enxoval consuetudinário das raparigas nisenses. No cartaz que a acolita, diz‑se: «Conhecedora da riqueza e da importância que o artesanato de Nisa atinge na sua máxima expressão, Joana Vasconcelos propôs, em estreita colaboração com as artesãs e artesãos locais, a criação de uma obra que reúne alguns dos melhores exemplares dos bordados e olaria pedrada do concelho.» E acrescenta‑se: «Deslocando estes objetos ímpares das suas habituais funções e subvertendo a familiaridade e domesticidade com que habitualmente nos são apresentados, Joana Vasconcelos reinterpreta, à luz da contemporaneidade, os valores estéticos evidenciados através das diferentes técnicas e temas característicos do artesanato nisense.»

            No meu juízo, a empresa joanina menoscaba a olaria, representada por um só artefacto, e, por ser feia, tira prestígio ao bordado nisorro. Na dita reinterpretação «à luz da contemporaneidade», vejo apenas uma miscelânea desgraciosa.

            Aproximava‑se a hora de partir. Não comprei queijo de Nisa, mas ainda me restou tempo para observar o garrido edifício da biblioteca municipal e a Capela do Calvário, que tem um corpo cilíndrico.

            O título deste texto provém de um pregão que vi repetido na vila. Acredito que aí tenha cabimento. Perdê‑lo‑ia se substituíssemos «Nisa» por «Portugal», país que, por força dos baixos salários, da especulação imobiliária, dos vistos golde dos privilégios fiscais concedidos a residentes não habituais, vem afastando os seus. Pelo rumo que as coisas levam, só haverá lugar e morada digna para estrangeiros ricos.

            O direito de propriedade privada não é um direito absoluto, pode ser restringido na medida em que tal seja necessário para a satisfação de outros direitos, como o direito à habitação. É credor do meu aplauso o pacote de medidas que o Governo divulgou, em fevereiro de 2023, para combater a crise na habitação. Se liberais arrebatados a isso chamarem «um ataque de socialismo», invocarei a função social da propriedade e responderei que o «ataque» se tornou imperativo. Um país é e deve ser comunidade e esta atrofia‑se caso faça uns happy few nas costas de unhappy many.

            Termino com poesia. É a minha forma de homenagear Fernando Eduardo Carita (1961‑2013), poeta nisense, e de divulgar um nisco da sua obra. De LA MAISON, LE CHEMIN/A Casa, o Caminho, edição bilingue: «Nem sequer caberás agora/Entre o mar e os búzios,/A lua e o luar,/O céu e os pássaros,/A vida e a morte,/O deus e o nada,/Nem tão‑pouco entre as tuas palavras/E o silêncio das pedras,/Unicamente na remanescência fulgurante/De todas as coisas acontecidas por advir.»

            De LE SALUT PAR LE VIDE/A salvação pelo vazio, também livro em duas línguas, e porque assim concebo o amor: «E se amar não fosse mais que ter/De revezar os pássaros cansados/Na sua vigilância sem falhas à terra e ao céu?»

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Paulo Pego
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