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Empenho de ordem médica em Coimbra só me consentia a manhã em terras do Nabão, por volta da hora do almoço teria de partir. Obrigado a fazer escolhas, optei por visitar a Igreja de Santa Maria do Olival. Se o tempo desse para mais, passaria no Museu dos Fósforos, nunca tinha visto coisa de semelhante jaez.
A Igreja de Santa Maria do Olival foi panteão de mestres templários, lá perduram lápides dos respetivos túmulos, designadamente a da sepultura de Gualdim Pais. Na frontaria com três corpos, salta à vista o do meio, rasgado por portal de arquivoltas ogivais assentes em colunas com capitéis em mau estado de conservação. Acima do gablete que emoldura o portal, pavoneia‑se uma grande rosácea com folhas trilobadas. A estética do local mais composta fica graças à torre sineira, outrora lugar de vigia, existente defronte da igreja.
No que toca ao interior do templo, destaco a capela‑mor e as capelas integralmente revestidas de azulejos. Naquela se encontra uma imagem de Nossa Senhora do Leite, de pedra policromada, com tanto de singelo como de bonito, e também um interessante arcossólio renascença onde se guarda a arca tumular com os restos de D. Diogo Pinheiro, o primeiro bispo do Funchal (pelo que li, nunca ele pôs os pés na Madeira).
Segui depois para o Museu dos Fósforos, cujo acervo é composto, no essencial, pelas caixas e pelas carteiras de fósforos que Aquiles da Mota Lima reuniu e ofereceu ao município tomarense. A sua paixão pela filumenia começou quando conheceu uma colecionadora que viajava no barco que o levava ao Reino Unido para assistir à cerimónia de coroação de Isabel II.
O recheio do museu presta‑se a boas fotos, mas a pequena volta ao mundo não me causou surpresa de monta, antes me fez pensar em figuras e lugares‑comuns que associava a certos países. Isso foi manifesto, por exemplo, na secção dedicada a Cuba, com rótulos que exibem mulheres de corpo torneado, seminuas e em poses que apelam à sensualidade, e naqueloutra respeitante à Bélgica, com embalagens que mostram ciclistas ou o Manneken Pis. Os responsáveis pela instituição devem agora contrabalançar clichês e ideias de antanho com as modernidades que vão varrendo mundo e adotando novos símbolos.
Terminada a visita, sobrava‑me tempo. Fui à pastelaria Estrelas de Tomar entreter o estômago e acabei por distrair os ouvidos. Sentadas perto de mim, duas jovens estudantes do ensino politécnico conversavam. Substituíram sempre «muito» por «bué». Sem verdadeiro desígnio de vida, solubilizavam os estudos e buscavam apenas um emolumento imediato, a aprovação nos exames.
Em volta de outra mesa, três professoras aposentadas, sexagenárias ou septuagenárias, deixaram‑me a ideia de uma reforma passada a dar à língua, a coscuvilhar. De vez em quando, espreitavam o Facebook, que a uma deu notícia de conhecida em férias na Turquia. A pergunta veio com entono de raiva: «Ela já lá foi há 24 anos, que foi lá fazer outra vez?» Viam muito argueiro nos olhos dos outros, mas não lobrigavam a trave que tinham nos seus olhos. Deram vários pontapés na gramática e uma delas disse que iria passar uns dias num «bengalou». Confesso que não o esperava, tanta frioleira colidiu com a ideia que tinha das mestras do tempo pretérito.
Uma amiga das professoras entrou na confeitaria e acercou‑se do trio. No Facebook, havia visto fotografias de uma das circunstantes num casamento e elogiou a sua elegância. Com um esgar, logo aditou: «Já a mãe da noiva…»