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O isolamento da pandemia de covid-19 e o cancelamento das celebrações na comunidade trouxeram um sentimento de saudade às novas gerações de luso-americanos, disse a lusodescendente Marisa Silva Rocha num painel de debate.
“Agora, com a pandemia, estamos a sentir saudade a um nível que nunca experimentámos antes”, afirmou a fadista, natural de São José, Califórnia. “Vamos ver a nova geração a regressar, porque gostam e têm saudade”.
Marisa Silva Rocha falava durante uma sessão organizada pelo Instituto Português Além-Fronteiras (PBBI, na sigla inglesa) com lusodescendentes durante a Semana do Imigrante Português na Califórnia.
No seu entender, as novas gerações que estavam a perder algum interesse nas atividades da comunidade portuguesa sentem agora mais vontade de regressar e participar, algo que será crítico para manter a cultura viva.
“Se não fizermos nada, as tradições não vão continuar. Quero que as pessoas pensem nisso”, realçou. “Se queremos que isto continue e temos orgulho, é nossa responsabilidade como luso-americanos assumir esse papel, pelos nossos filhos e pelos dos outros”.
A fadista, de 32 anos, também disse ser importante que as mulheres tomem as rédeas das organizações de uma forma mais consistente.
“Queremos que isto de serem os homens a mandar termine connosco. A minha geração, homens e mulheres, quer que isso aconteça”, indicou a lusodescendente. “As mulheres são líderes natas, trabalhadoras e resilientes”, continuou.
A residir em Hilmar, no vale central da Califórnia, Marisa Silva Rocha considerou importante que já se vejam mais mulheres em posições de autoridade na comunidade portuguesa, mas ainda há trabalho a fazer. “Quero que mais presidentes de clubes portugueses sejam mulheres e quero ver mais jovens envolvidos”, disse.
É também essa a perceção de Justine Ávila, lusodescendente de segunda geração que reside em Artesia, condado de Los Angeles. “Nas novas gerações, as mulheres estão a ascender e a tomar a liderança em várias áreas diferentes”, referiu no mesmo painel.
“O que quero é ver expandir isso, porque muitas vezes são as mesmas mulheres a fazerem tudo”. A ideia, disse, é que se alargue o círculo da comunidade e se atraiam mais pessoas para assumir cargos de liderança.
Ávila considerou que a tecnologia vai desempenhar um papel importante na nova fase das comunidades portuguesas, capitalizando no balanço tomado por causa da pandemia e dos eventos virtuais.
Enquadrado na Semana do Imigrante Português, o painel de debate “Beyond Saudade” (Para lá da saudade) juntou lusodescendentes de primeira, segunda e terceira gerações, numa discussão sobre o legado das famílias de imigrantes e o futuro da comunidade.
Janell Morillo sublinhou o “orgulho” de ser portuguesa instigado pela avó e falou da importância da educação, referindo que queria ter aprendido a falar português.
“Eu como terceira geração sinto pena porque a língua portuguesa não me foi passada e gostava de ter conseguido”, afirmou Morillo, vice-presidente associada do departamento de saúde e bem-estar dos estudantes na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno.
A língua foi algo que Mary Borba, já nascida nos Estados Unidos e casada com um imigrante português, fez questão de ensinar aos filhos. “Quando casámos, fizemos o pacto de que íamos só falar português com os filhos”, lembrou.
A lusodescendente referiu que está a assistir a um “renascimento” da vontade de falar português e também indicou que a tecnologia tem um papel importante, pela quantidade de recursos que agora estão disponíveis.
“Portugal tem muito para se orgulhar”, considerou.
A Semana do Imigrante Português na Califórnia decorreu entre 7 e 11 de março com vários eventos virtuais e o patrocínio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e California Portuguese-American Coalition (CPAC).