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De um ponto de vista político, continuamos numa espécie de peça de um só acto, dramática, jocosa, burlesca, representado por bobos, que, como farsa que é, só deveria permanecer em palco no entreacto da peça principal.
De um ponto de vista social, o nosso país continua de braços cruzados, contemplando, com desinteresse e indiferença, as cenas circenses deste espectáculo degradante e medíocre que se instalou no palco de todos os âmbitos da governação.
Neste entretém, apoquentam-me os dias do advir. O nosso alheamento é trágico. Não há pensamento colectivo. Não há pensamento subversivo. É mais doloroso e perturbante perder o telemóvel do que perder a dignidade. Vivemos uma era negra, onde a mentira é moda, a traição, inteligência, e a honestidade, um defeito. Deixamos de ter capacidade de indignação e aceitamos, subjugados e indiferentes, todos os ultrajes e aviltamentos, recebendo o que for e o que vier, sem rabugice e sem qualquer impaciência.
Em Portugal, no tempo anterior à revolução, não podíamos reunir, não podíamos falar em público, não podíamos ter opinião contrária à vigente na altura. E o povo, adormecido, tudo aceitava, cabisbaixo e tolerante. Com a revolução, despertamos, conhecemos os nossos direitos e começamos a pensar. Parecíamos outros, outro povo, outra gente. O pensamento ganhou asas e voou, voou, voou. Ganhamos vida, saúde, literacia. Uma euforia enorme e contagiante apoderou-se da nossa nação, e crescemos, crescemos, crescemos. Subimos ao mais alto posto da felicidade, e ficamos inebriados. Vieram as reformas, umas atrás das outras, sem critério ou selecção. O que era preciso era reformar, reformar, reformar, em especial no ensino, na educação no modo de viver. E o povo, inquieto, não sabia já para que lado se virar. E virou-se para um lado mau. Vieram as ideias modernas, cada vez mais modernas, muitas chegadas do estrangeiro. A mais pequena novidade era de imediato tentada introduzir na educação dos mais jovens ou dos mais velhos, também através de programas televisivos com orientação política amoral, debaixo da liberdade de expressão e nova ordem de orientação subjectiva. Sempre sem critério. Em menos de quarenta anos, transformaram-nos em seres amorfos, onde o cansaço se instalou e a cobardia é a nova coragem. Acabaram connosco, com o nosso modo de vida, passo a passo! Tudo passou a ser normal e quem não o entendesse e tivesse coragem para o dizer, passaria muito rapidamente a proscrito, apelidado de extrema-direita e de não ser de confiança. Agora que podemos falar, sair, dizer, escrever, reunir, sem que nada ou alguém o possa impedir, a nossa juventude não sai, ficando encafuada num quarto horas a fio, agarrada ao telemóvel ou ao computador, jogando. Não falam entre eles, não convivem, ou melhor, convivem cada vez menos.
Já chegaram recentes ideias sociais. Instalaram-se pela calada, a coberto de documentos publicados e à vista de toda a gente, com a anuência dos líderes mundiais e a complacência, o assentimento, e a subserviência dos nossos líderes caseiros.
Querem pôr-nos chips no corpo, e não nos importamos. Até ficamos contentes. Com ele vamos poder pagar as contas, entrar em recintos desportivos ou em eventos musicais, andar de autocarro, metro ou comboio, entrar em aviões … e ficamos contentes, rejubilamos. Não vemos, ou não queremos ver, ou não o conseguimos fazer, que só serve para que nos controlem.
Chegaram agora, depois da Inteligência Artificial, as cidades quinze minutos. E nós achamos o máximo. Isto é que vai ser. O futuro a chegar!