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Jorge Tavares da Silva
(1945 – 2016)
DERRADEIRA HOMENAGEM
“Fiz tudo e mais alguma coisa”
De todo inesperada, a notícia dava a conhecer a tragédia! Ninguém queria acreditar em tão repentino desenlace; prematuro, inesperado, cruel... A habitual quietude e rotina, foi abruptamente quebrada pela dilacerante advertência, que rapidamente se expandiu: Morreu Jorge Tavares da Silva! Embarcando numa viagem sem retorno, definitiva… Qual fado ou destino, naquele lugar, nesse momento fatídico. Em circunstâncias sempre dúbias, estranhas, refutáveis; melhor fosse um pesadelo!
Perdemos um amigo que sabia colocar ao serviço dos outros o seu saber, a sua dinâmica intelectual, o seu altruísmo, cooperação e solidariedade; a comunidade portuguesa na Bélgica fica, a partir de agora, mais pobre! É com dor e emoção que nos curvamos perante a sua obra e a sua memória!
“Morremos um pouco cada vez que perdemos um ente querido”
É sempre difícil e comovedor falar e/ou escrever sobre a vida e a história de alguém que nos deixa, repentinamente e de forma dramática. De facto a morte não tem hora marcada e surge, tantas vezes, quando menos se espera, com amarguradas ocorrências que nos fustigam a alma. Ficamos ainda mais aturdidos quando se trata de um familiar ou de um amigo, com quem tivemos ocasião de privar, partilhando pedaços de vida, nas mais diversas circunstâncias da coexistência familiar, laboral, social, associativa… E porque as palavras voam, os escritos permanecem e os exemplos arrastam, aqui fica, através deste singular testemunho, a homenagem a um homem que devotou boa parte da sua vida, às letras, à arte e à cultura… De forma simples, mas inteligente e perspicaz. E com a persistência que o caracterizava.
Foragido e acossado do regime, encontrou na Bélgica o apoio necessário para continuar a sua luta pela liberdade. Com o decorrer dos anos, como tantos outros, foi-se modelando e adaptando, também na sua forma de ver e pensar o mundo que o rodeava. E por cá ficou, tendo desempenhado diversos cargos e responsabilidades. No Conselho da EU, como chefe do serviço de publicações e tradutor; como Arquitecto de interiores; como escritor e cronista… O contador de histórias tinha ainda outras entusiastas ocupações que o ligavam ao meio artístico e culinário. Foi nesse domínio que se destacou, dando evidência à riqueza da nossa cozinha, como meio de promoção e valorização do povo que somos. Defendeu em livro essa supremacia, qual hino à gastronomia lusitana no mundo. Desde os peixes, com o rei bacalhau, até às carnes e outros produtos autóctones! O homem, genuíno e de semblante característico, acreditava naquilo que fazia e confessava: “Fiz de tudo e mais alguma coisa”. E rematava: “não sou especialista de coisa nenhuma…Sou um amante”. E era de facto um apaixonado por casos e causas, que naturalmente promovem e valorizam.
Foi co-autor do livro que assinalou as Bodas de prata da padaria Garcia, em Fevereiro 2016.
O poliglota tornou-se ainda mais diletante quando há cerca de seis anos se reformou. Para se dedicar a outros sonhos e outros empreendimentos de caracter cultural, área da sua paixão. Com a máxima, que fazia sua: “Faz o que quer, o que gosta, para quem quer e para quem gosta”. Agora que podia usufruir de grandes e bons momentos, com a família e amigos, que podia concretizar alguns desígnios… Eis que surge o desastre, que trava o sonho. De repente, num só instante, tudo se altera! Num tempo em que o investigador e perfeccionista tanto tinha para nos dar!
Nesta fase de luto, apresento os meus pêsames à família e amigos.
Os homens passam, mas fica para sempre o seu legado, na vida e na história dos povos.
Descanse em paz!